Friday, May 20, 2011

Os Juros tem de Baixar

Continua válio o artigo que publiquei no jornal Brasil Economico:

http://www.brasileconomico.com.br/noticias/os-juros-tem-de-baixar_70894.html


Os juros têm de baixar

31/10/09 07:06 | Charles Putz 

Está em voga uma "verdade" pela qual para manter o país nos eixos em um cenário de crescimento econômico é preciso elevar os juros. A culpa seria da pressão inflacionária. Pitonisas alertam que será inevitável um aumento na taxa Selic a partir de 2008. Pode ser. Mas no longo prazo eles não vão subir. Devem até cair.
Para entender o dilema dos juros altos vale recapitular uma lição básica de finanças: os juros compostos. Sem eles, não existiria crédito ou aplicações de longo prazo.
Se eu empresto R$ 100 a uma taxa de juros de 10% ao ano, vou receber no final R$ 110. Ou rolar os R$ 110, de modo que tenha a receber ao final do segundo ano do empréstimo R$ 121, (10% sobre R$ 110 e não 20% sobre R$ 100). Se quem tomou o empréstimo não quiser manter a dívida não há problema. Posso emprestar os R$ 110 à outra pessoa, que concordará em calcular os juros sobre R$ 110, e não sobre R$ 100. É assim que funciona.
Se no final de dois anos parece bobagem quem empresta e quem toma o empréstimo brigar por R$ 1, os juros compostos, a longo prazo, tem efeitos incríveis.
Vamos imaginar que você pudesse escolher entre um deposito de R$ 100 todos os anos, desde o nascimento, numa aplicação sem juros, ou um único depósito de 100 reais numa conta de poupança que rende 6% de juros ao ano.
Quando a velhice chegasse, aos 75 anos, e você estivesse no grupo do depósito anual de R$ 100, receberia R$ 7.500 (R$ 100 vezes 75 anos).
Parece melhor do que receber R$ 100 uma única vez, mas não é. No caso do depósito único, com juros compostos, a bolada seria de R$ 7.705,69. Se a aplicação fosse mais ousada, e pagasse 12% de juros ao ano, a conta chegaria a R$ 491.305,58. Mas vamos partir para uma opção mais agressiva: 50% de juros ao ano. Seria a velhice dos sonhos.
Em seu 75º aniversário, os R$ 100 depositados no nascimento teriam se transformado em R$ 1,6 quatrilhão. É o equivalente a 23 vezes a economia mundial. E tudo come çou com 100 unidades, no tempo de vida de uma pessoa.
A conclusão é óbvia: é impossível manter uma política de juros altos por muito tempo. Ela não cabe na realidade. Do contrário, qualquer quantia aplicada vai se transformar num bolo maior que toda a economia do planeta. É só questão de tempo.
Se Pedro Álvares Cabral tivesse aplicado uma libra esterlina a juros de 1% ao mês em comemoração ao Descobrimento do Brasil, 322 anos depois, na independência do país, seus descendentes teriam no bolso 49 quatrilhões de libras. Muitas vezes mais que o valor monetário de todo o mundo, mesmo nos dias de hoje.
O Brasil ficou preso a altas taxas de inflação por muito tempo. Hoje está preso a altas taxas de juros. O medo é que se os juros baixarem, a inflação volte.
Se o governo fizer o que tem que ser feito, e reduzir gastos públicos, poderá baixar os juros sem provocar inflação. Baixar os juros será mais eficiente para reduzir o excesso de valorização do real do que criar antipáticos impostos sobre a entrada de capital estrangeiro.
É uma questão de tempo: os juros reais no Brasil vão baixar mais. Trata-se até de uma necessidade matemática. Um aplicador em juros no Brasil não poderá acumular mais que toda economia do mundo.
Ou os juros baixam, ou o calote será inevitável.
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Charles Laganá Putz é diretor presidente da Namisa - Nacional Minérios S/A

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