Friday, May 20, 2011

O Sucesso do IPO do LinkedIn e A Bolha de Newton

É um bom momento para relembrar este tema.  O artigo anexo e abaixo que publiquei no jornal Brasil Economico continua bem atual:

http://www.brasileconomico.com.br/noticias/a-bolha-de-newton_71758.html


A bolha de Newton

16/11/09 07:04 | Charles Putz - Presidente da Namisa

Sir Isaac Newton é conhecido de todos como o pai da física clássica. Mas há um lado de Newton menos conhecido. No século 18, ele era o Master of the Mint, à frente da Casa da Moeda britânica.
Desse camarote privilegiado, ele acompanhou os desdobramentos de um dos grandes negócios da China da história do capitalismo, a venda de ações da South Sea.
A companhia fora fundada em 1711 para assumir 10 milhões de libras da dívida da coroa. Em troca, recebeu pagamento de juros anual e o monopólio do comércio com as colônias espanholas da América do Sul.
A empresa era deficitária, mas como instituição financeira era um portento. Transformou a dívida em ações e, para oferecer um preço que interessasse aos credores do governo, inflou como pôde esse valor.
Cada ação tinha valor de face de 100 libras e dois meses depois já valia o triplo. O rei Jorge I, o poeta Alexander Pope e Isaac Newton, eram acionistas da South Sea - o que dava credibilidade à empresa, apesar de seu fraco desempenho.
As ações continuavam subindo (chegaram a mil libras). Até que a bolha estourou.
Os participantes da festa sabiam que não duraria para sempre,mas erraram o timming. Uns dizem que Newton perdeu dinheiro. O que se sabe é que ele deixou para a posteridade uma frase célebre: "Sei calcular o movimento dos corpos celestes, não a loucura das pessoas".
É dessa época a expressão bubble companies. Curioso é que tais bolhas, volta e meia, apareçam para assombrar o capitalismo, e não só em companhias, mas em economias inteiras.
Sabe-se que existe o risco de a bolha estourar, mas ninguém quer deixar de ganhar dinheiro antes do estouro, confiando que não se trata de uma bolha, ou que saberá a hora certa de sair.
Timming é tudo-ou sorte, a depender do ponto de vista. O certo é que o sentido de manada prevalece no mercado.
Quem sai antes não é chamado de prudente, mas de trouxa. Caso erre ao menos não está sozinho.
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Charles Laganá Putz é presidente da Namisa - Nacional Minérios S/A

Os Juros tem de Baixar

Continua válio o artigo que publiquei no jornal Brasil Economico:

http://www.brasileconomico.com.br/noticias/os-juros-tem-de-baixar_70894.html


Os juros têm de baixar

31/10/09 07:06 | Charles Putz 

Está em voga uma "verdade" pela qual para manter o país nos eixos em um cenário de crescimento econômico é preciso elevar os juros. A culpa seria da pressão inflacionária. Pitonisas alertam que será inevitável um aumento na taxa Selic a partir de 2008. Pode ser. Mas no longo prazo eles não vão subir. Devem até cair.
Para entender o dilema dos juros altos vale recapitular uma lição básica de finanças: os juros compostos. Sem eles, não existiria crédito ou aplicações de longo prazo.
Se eu empresto R$ 100 a uma taxa de juros de 10% ao ano, vou receber no final R$ 110. Ou rolar os R$ 110, de modo que tenha a receber ao final do segundo ano do empréstimo R$ 121, (10% sobre R$ 110 e não 20% sobre R$ 100). Se quem tomou o empréstimo não quiser manter a dívida não há problema. Posso emprestar os R$ 110 à outra pessoa, que concordará em calcular os juros sobre R$ 110, e não sobre R$ 100. É assim que funciona.
Se no final de dois anos parece bobagem quem empresta e quem toma o empréstimo brigar por R$ 1, os juros compostos, a longo prazo, tem efeitos incríveis.
Vamos imaginar que você pudesse escolher entre um deposito de R$ 100 todos os anos, desde o nascimento, numa aplicação sem juros, ou um único depósito de 100 reais numa conta de poupança que rende 6% de juros ao ano.
Quando a velhice chegasse, aos 75 anos, e você estivesse no grupo do depósito anual de R$ 100, receberia R$ 7.500 (R$ 100 vezes 75 anos).
Parece melhor do que receber R$ 100 uma única vez, mas não é. No caso do depósito único, com juros compostos, a bolada seria de R$ 7.705,69. Se a aplicação fosse mais ousada, e pagasse 12% de juros ao ano, a conta chegaria a R$ 491.305,58. Mas vamos partir para uma opção mais agressiva: 50% de juros ao ano. Seria a velhice dos sonhos.
Em seu 75º aniversário, os R$ 100 depositados no nascimento teriam se transformado em R$ 1,6 quatrilhão. É o equivalente a 23 vezes a economia mundial. E tudo come çou com 100 unidades, no tempo de vida de uma pessoa.
A conclusão é óbvia: é impossível manter uma política de juros altos por muito tempo. Ela não cabe na realidade. Do contrário, qualquer quantia aplicada vai se transformar num bolo maior que toda a economia do planeta. É só questão de tempo.
Se Pedro Álvares Cabral tivesse aplicado uma libra esterlina a juros de 1% ao mês em comemoração ao Descobrimento do Brasil, 322 anos depois, na independência do país, seus descendentes teriam no bolso 49 quatrilhões de libras. Muitas vezes mais que o valor monetário de todo o mundo, mesmo nos dias de hoje.
O Brasil ficou preso a altas taxas de inflação por muito tempo. Hoje está preso a altas taxas de juros. O medo é que se os juros baixarem, a inflação volte.
Se o governo fizer o que tem que ser feito, e reduzir gastos públicos, poderá baixar os juros sem provocar inflação. Baixar os juros será mais eficiente para reduzir o excesso de valorização do real do que criar antipáticos impostos sobre a entrada de capital estrangeiro.
É uma questão de tempo: os juros reais no Brasil vão baixar mais. Trata-se até de uma necessidade matemática. Um aplicador em juros no Brasil não poderá acumular mais que toda economia do mundo.
Ou os juros baixam, ou o calote será inevitável.
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Charles Laganá Putz é diretor presidente da Namisa - Nacional Minérios S/A

Gestão de Expectativas

Leia artigo que publiquei no jornal Brasil Economico:
http://www.brasileconomico.com.br/noticias/gestao-de-expectativas_72574.html


Gestão de expectativas

01/12/09 07:08 | Charles Putz - Presidente da Namisa

Na semana passada assisti a um filme muito bom. Mas saí do cinema decepcionado. Ouvi falar tão bem dele que esperava mais. É questão de expectativa. No fundo, não adoramos o que é ótimo, mas o que excede nossas expectativas.
O primeiro capítulo dos livros de marketing começava ensinando que o objetivo era atender as necessidades do consumidor. Evoluíram para dizer "atender, ou exceder, as expectativas do cliente". Quando queremos promover algo, nosso papel é elevar as expectativas do consumidor.
Do contrário, não despertamos interesse. Por outro lado, como o segredo está em exceder as expectativas, se as elevamos demais, depois não conseguimos entregar o que prometemos.
Gerir bem expectativas é a chave do sucesso para muito mais coisas na vida do que marketing de produtos.
Tome como exemplo um candidato - a um emprego, a um cargo público, a umromance. Para ser escolhido é necessário oferecer algo que supere o interesse imediato do outro. Mas para realmente dar certo é preciso ir além das expectativas iniciais.
Meu exemplo preferido para mostrar o poder de manter as expectativas baixas e depois excedê-las é a apresentação de Paul Potts no programa de televisão Britain's Got Talent.
Aparece diante do público e dos jurados um vendedor de celulares com os dentes tortos, barrigudo emal vestido.
Perguntam-lhe o que ele vai cantar, e ele responde: "ópera". Quando abriu a boca emocionou a todos cantando Nessun Dorma de Puccini.
Os jurados ficaram de boca aberta. Ouvi de entendidos de música que Potts é muito bom, mas não extraordinário.
A questão é que não se esperava nada dele, e ele excedeu as expectativas.
O mercado financeiro também é movimentado por expectativas. O capital busca investimentos com base na expectativa de retorno dos mesmos. No mundo globalizado os recursos fluem para os países onde as expectativas são mais altas.
As altas expectativas em torno do Brasil provocam uma enxurrada de dinheiro para cá. Esta é uma das razões para a valorização do real, talvez além do desejável.
A percepção do Brasil e as expectativas em relação ao mesmo costumam balançar feito um pêndulo. Em 1941 o austríaco Stefan Zweig escreveu o livro "Brasil, País do Futuro".
Em 1963 Charles de Gaulle disse que "o Brasil não é um país sério". Ditadura, milagre econômico, hiperinflação, planos econômicos... o pêndulo balançou para um lado e para o outro. Em 2001 Jim O'Neil ressuscitou o país do futuro ao criar o termo BRIC.
O recente artigo de capa Brazil takes off da revista The Economist é motivo de orgulho para qualquer brasileiro, nos fazendo imaginar que o futuro chegou. Entretanto, como o subtítulo do artigo coloca, o risco desta história de sucesso é um orgulho arrogante (hubris).
Há muito que fazer para atendermos todas as expectativas em torno do país. Poderemos tropeçar na falta de poupança interna, nos gastos excessivos do governo, nos índices de criminalidade, na corrupção e nas falhas do sistema de educação.
Se não fizermos nossa lição de casa e gerirmos bem as expectativas, um tropeço poderá levar o pêndulo novamente para o lado oposto.
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Charles Laganá Putz é presidente da Namisa - Nacional Minérios S/A